quinta-feira, 22 de julho de 2010

Exposição - "O que separa você de mim" Fortaleza, 2010



Sem título da série O que separa você de mim
Frame do vídeo



Katalina Leão, jovem artista selecionada no Programa Residências em Fluxos do MAMAM - Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, de Recife, em parceria com o Sobrado Dr. José Lourenço, em Fortaleza, e com a Usina Cultural Energisa, em João Pessoa, expõe o resultado concreto da residência artística que vivenciou durante um mês em Fortaleza.


Selecionada com base na avaliação de trabalhos anteriores, a artista desenvolve a obra O que separa você de mim a partir de sua relação com a cidade. A obra propõe uma reflexão sobre o que constitui a nossa intimidade nos ambientes em que convivemos. O conceito de casa e a relação das pessoas com o espaço público são temas centrais buscados pela pernambucana.

Em casa, o corpo se expande às superfícies, aos objetos e às pessoas. Fora, ele se comporta de maneira mais retraída; esse mesmo corpo já não adere às paredes estranhas e se confunde no manejo das ferramentas que aparecem pelo trajeto.

Mas o que marca o fim da casa? O último ruído da chave ao trancar a porta também age como estalo para uma mudança. A intimidade se esconde, mas também pode ser escancarada.

E Katalina tenta proporcionar, por meio de fotos documentais do colega Diego de Santos, a reflexão acerca de como nos posicionamos diante do espaço, seja ele o nosso quarto ou as grandes avenidas.

No vídeo, uma moça se encanta com o desenrolar do rolo de papel higiênico e dança com ele, tornando poética uma cena cotidiana. Nessa parte do trabalho, a participação dos objetos pessoais na dinâmica do lar é colocada em discussão de forma sutil.

Nesse sentido, cada foto exposta e o vídeo devem ser considerados como fragmentos de um mergulho ao imenso oceano da intimidade.
                                                                                                      
                                                                                                                         Roger Pires

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Residência Artística - Fortaleza 2010

Residência Arstística - Fortaleza



Algumas horas após o desembarque, uma reunião com a Curadora e a Diretora do Sobrado me fez entender que realmente estava em solo cearense. Mas estar em solo cearense não significa que já estava me sentindo em Fortaleza.

Uma pergunta surgiu:

-Qual é a sua proposta? Pergunta Dodora Guimarães, curadora do Sobrado.

- Vivenciar a cidade. Respondi.

Achei que não seria interessante trazer um trabalho pronto. Preferi produzir a partir da minha relação sensível com o lugar.

Terminada a reunião, segui caminhando pelo centro de Fortaleza, permitindo que meus olhos me conduzissem a imagens que não me eram automatizadas por um olhar cansado de sempre ver a mesma coisa.

A princípio, um sentimento de turista tomou conta de mim. Acho que é a forma mais comum de se perceber uma cidade nova. Olhar os bustos das praças, o nome das ruas, Desembargador isso, Barão daquilo... Semelhanças não tão semelhantes assim.

Dia seguinte peguei um ônibus, algo bem eficiente quando se quer conhecer uma cidade, fazer aquelas belas voltas para se chegar a um lugar cujo caminho poderia ser mais curto.

Foi nesse trajeto que pensei: O que me faria sentir a cidade? Qual a relação mais íntima que posso ter com ela? O que seria um trabalho de residência de um mês?

Pensando nisso, resolvi desenvolver um ciclo de performances que me dessem a possibilidade de me sentir em casa, residindo em Fortaleza.

Pensar em ações que jogassem com os limites do espaço público e do privado rompendo as barreiras que os separam. Uma depilação em canteiro de uma avenida, um banquete numa praça, a encenação e a limpeza de uma aconchegante sala de estar numa calçada da cidade, e alguns detalhes como pôr uma almofada num banco de um ponto de ônibus, criam uma sequência que toca nas dimensões da intimidade do cotidiano e também traz de forma sutil a ideia do cuidado com o espaço que “moramos”.

Usar a cidade como residência foi o ponto de partida para questionar o significado enganosamente simples da palavra “Residir”.

A casa, um abrigo seguro contra ataques de terceiros, perde aqui sua fortaleza. Suas paredes transformam-se numa cortina transparente dando uma ideia de unidade, fundindo os espaços: dentro/fora, proporcionando um questionamento em relação à imagem que criamos quando estamos fora da nossa propriedade.

Será que somos quem somos se alguém está olhando?

A ideia de lar, por outro lado, apresenta uma conotação afetiva pessoal, um lugar de referência de identidade do sujeito: é o espaço que abrimos para receber pessoas queridas. A partir desse sentimento, surgiu a imagem de uma mesa com comida, uma imagem associada tradicionalmente a ideia de família. Lembrei dos momentos ao redor da mesa, da forma boa de compartilhar histórias, das festas de aniversário, dos bolos e suas caldas fascinantes, das gargalhadas e dos sorrisos,. Então pensei em criar um banquete em praça pública na intenção de trazer esses momentos. A ação que denominei de “Entre” traz essa necessidade desse momento familiar, essa alegria de dividir sentimentos, de estar junto.

                                                                                                                              Katalina Leão